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Foto: www.ufmg.br

MÁRIO GERALDO DA FONSECA

Mário Geraldo Rocha da Fonseca nasceu meu Maués, Amazonas. Professor-doutor formado pela Universidade Federal de Minas Gerais. Publicou o livro de poesia  mar.rio (poemas e grafismo, 2015).

A seguir, poemas extraídos do SUPLEMENTO LITERÁRIO DE MINAS GERAIS, Nov./Dez. 2015, Edição 1.363, da Secretaria de Estado da Cultura.

ÇAPO

 A cuia bebe os lábios. os lábios bebem os olhos. os olhos
bebem o ventre. o ventre bebe as pernas. as pernas bebem
a mulher. a mulher bebe a mãe. a mãe bebe o fruto. o fruto
bebe o menino. o menino bebe a Cobra.
E a Cobra? É ela que me bebe

Eu bebo os lábios que me bebem os lábios que bebi os olhos
bebidos pela cuia que bebeu os lábios de mim os lábios que
beberam os olhos os olhos que beberam o ventre o ventre
que bebeu a mãe a mãe que bebeu a Cobra.
E a Cobra? Acabou de meu beber.

Eu que acabei de beber a cuia. a cuia que que acabou de beber
os lábios. os lábios que acabaram de beber o menino. o menino
que acabou de beber o ventre. o ventre que acabou de beber a
mãe. A mãe que acabou de beber as pernas. as pernas que
acabaram de beber a Cobra.
E a Cobra? Acabou de me beber, de novo

Eu que bebi a cuia que bebi os lábios que bebi os olhos o ventre
que bebi as pernas que bebi a mulher bebeu a mãe que bebi o
fruto desta mãe com a Cobra que portanto bebi mãe que bebi o
fruto desta mãe com a Cobra que portanto bebi mãe e Cobra e
o fruto desta união que chama guaraná.
Guaraná que acabou de me beber,

Enfim

 

PRINCÍPIO

No princípio
era só ossos
e, neles, apenas música.
Só depois veio o leite o tabaco.
Foi então
que Ye´Pá sentiu falta de água
e criou o mundo


COSMO TUKANO

O galho de leiro aperta o seio.
Dele, escorre algo que não se sabe o que ´.
Aliás, sabe-se, sim:
é o mundo sendo criado


HAIKAI PRA MAUÉS

A chuva parou:
bem-te-vis, sapos, folhas, motos
o Rio Maués-Açu voltou a correr


DE VOLTA

Lá vai embora,
rio abaixo,
transformando-se
em pedrinha de sal
até chegar ao mar
de onde sente
muita saudade de mim.

Então,
pede ao vento
que volte.

Assim,
recebo a chuva
no rosto
no qual ele cai
como primeira
manhã do mundo

 

(sobre o trecho de Agostinho Manduca. In Fluidez da Forma)

Página publicada em fevereiro de 2016

 

 


 

 

 
 
 
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